Atrás das bancadas de pallets e debaixo das lonas coloridas, os feirantes que, faça chuva ou faça sol, se dedicam às vendas de alimentos nas ruas de todo o País, celebram no dia 25 de agosto, a sua profissão.
E é pelas mãos desse personagem, protagonista da feira, que os produtos do agronegócio chegam às residências nas cidades. E mais que vendedores, eles precisam ser bons de “lábia”, para oferecer o seu produto e terminar a feira com os caixotes vazios.
Do outro lado da banca, a clientela sempre tenta “pechinchar” para conseguir um descontinho, ou até mesmo adotar a estratégia de ir na “hora da xepa”, horário próximo ao fim da feira, para garantir um precinho melhor. Toda essa cultura virou tradição brasileira, e mais que um espaço para comércio, a feira é também um espaço de lazer, onde é possível conhecer e experimentar diferentes frutas, consertar utensílios de casa e, no final de tudo, encerrar o passeio com o tradicional pastel e caldo de cana, os queridinhos das feiras.
E é a garapa que garante a renda da família do Márcio Dantas (65), que trabalha na feira desde os 23 anos e já vendeu de tudo durante esse tempo, desde cereais a pastéis. Mas há 40 anos, é da moenda de cana que vem o sustento. “Cada dia vendemos uma quantidade diferente, mas uma vez vendi em uma feira noturna 80 dúzias de cana moída, que dá aproximadamente 13.440 litros de caldo”, conta Márcio.
As feiras livres surgiram no início do século XVIII, quando os principais produtos eram tecidos, alimentos não perecíveis. Na época, legumes e verduras eram comercializados em pequenos mercadinhos, chamados de quitandas. Só no início do século XIX, mais especificamente em 25 de agosto de 1914, que as feiras ganharam o formato que conhecemos hoje, surgindo o nome ‘Feira Livre’, na cidade de São Paulo.
Entre os feirantes, é possível encontrar produtores rurais, que preferem vender diretamente ao consumidor final. A prática é adotada principalmente por agricultores familiares, que aumentam suas margens sem a figura do atravessador.
E apesar das facilidades da vida moderna, que permite, por exemplo, comprar alimentos por meio de aplicativos no celular com sistema de entregas em domicílio, a feira ainda é um grande atrativo, um ambiente que promove integração e é um patrimônio territorial, tem sempre uma feira montada perto de casa. Para se ter uma ideia, só na capital paulista, são mais de 955 feiras espalhadas pela cidade, no formato tradicional (das 8 horas da manhã às duas da tarde) e noturna (das quatro da tarde às nove da noite). Além disso, geram cerca de 36 mil vagas diretas e indiretas de empregos, na cidade de São Paulo.
Rogério Santos (55), trabalha há 37 anos vendendo frutas produzidas por agricultores familiares da região do Vale do Ribeira e aposta na simpatia e no bom humor para conquistar a clientela. Ele costuma oferecer a fruta para o cliente experimentar e levar seu produto. “Aprendi a ser vendedor com a vivência das feiras, me aprimorando a cada dia para entender melhor o que o cliente gosta”, revela Rogério.
Há 24 anos nas feiras, Julio Cesar (40), que vende hortaliças e verduras de produtores da região de Arujá e Mogi das Cruzes, garante que a simpatia e a honestidade são o carro chefe para concluir a venda. “As vezes acabamos sugerindo outras opções de produtos para os clientes, se um está melhor que o outro naquela semana, assim ganhamos confiança e fortalecemos a amizade da freguesia” ressalta.
Moídos na hora, os temperos da banca do Lúcio Flávio vêm de produtores de diferentes cidades do interior de São Paulo e dão, segundo ele, um sabor natural às receitas dos consumidores, que buscam na feira, produtos frescos e de qualidade. “Eu prefiro fazer minhas compras na feira porque aqui podemos escolher os melhores produtos e o atendimento é excepcional, por isso não abro mão de toda semana vir à feira”, finaliza Luciana Ferreira (37), consumidora da feira no bairro da Aclimação.
Uma vida de luta e de muito trabalho, esse é o cotidiano do feirante, profissão que resiste ao tempo e de grande importância para a economia das cidades e, principalmente, para o agro paulista. “São os feirantes que vendem os alimentos produzidos no campo, que fazem chegar à mesa dos paulistanos legumes, verduras e frutas cultivados com amor pelos homens e mulheres do campo. Parabéns pelo seu dia”, ressalta Guilherme Piai, secretário de Agricultura e Abastecimento de São Paulo.
Por Caroline Guimarães
MTB: 0091806/SP