Secretaria de
Agricultura e Abastecimento

DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA: Quilombos paulistas preservam histórias e tradições da lida no campo

DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA: Quilombos paulistas preservam histórias e tradições da lida no campo

Falar de agronegócio exige, neste 20 de novembro – Dia da Consciência Negra, reverenciar e refletir sobre a importância dessa cultura para o desenvolvimento da agricultura brasileira. A data, reconhecida em 1971 e oficializada apenas em 2011, por meio da Lei nº 12.519, estreia em 2023 como feriado em todo o Estado de São Paulo.
Para comemorar a data, fomos conhecer de perto um pouco da cultura dos quilombolas paulistas, comunidades que começaram a se formar no século 16 a partir dos refúgios dos negros escravizados e que vivem, praticamente, da agricultura familiar.

Mais do que apenas sobrevivência, o plantio, a colheita e a comercialização de alimentos garantem a transmissão das práticas e tradições das comunidades entre gerações, como a relação com a natureza, os laços de parentesco e as manifestações religiosas, de música e dança.
Por isso, a agricultura tradicional das Comunidades Quilombolas do Vale do Ribeira, no sul do Estado, foi reconhecida como patrimônio cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Segundo o órgão, esse sistema agrícola é “experiência acumulada na pesquisa e observação das dinâmicas ecológicas e resultados de manejo, mas também fruto do repertório de conhecimentos que remontam origens africanas e indígenas”.

Quase cinco séculos após a formação dos quilombos, essas organizações existem de forma expressiva no País. São mais de 2,4 mil comunidades reconhecidas pela Fundação Cultural Palmares. Em São Paulo, cerca de 1,5 mil famílias vivem em quilombos.

Cintia Delgado, do Quilombo Cafundó, em Salto de Pirapora, destaca a importância da data para uma reflexão sobre os negros no Brasil. “A cultura negra mostrada no nosso País é sempre ligada à escravidão, mas o povo preto consegue falar de engenharia, de gastronomia, de moda, de várias coisas. É uma data de conscientização, de olhar com mais carinho para essa população que ajudou a construir o nosso país”, ressalta

Atualmente, existem 38 famílias no Cafundó, que vivem em sua maioria da agricultura e do artesanato, e compartilham o território com o Quilombo Caxambu, que era localizado na cidade de Sarapuí, extinto na década de 1970. Desde então, convivem no mesmo espaço e desenvolvem um trabalho de turismo com base comunitária, educacional e com imersão cultural.

“Hoje, a comunidade vive um momento de superação da escassez que o quilombo viveu. Sofremos muito, mas hoje buscamos mais oportunidades de oferecer nosso trabalho. Gostaria de pedir para que olhem com mais carinho para a população quilombola, para termos mais acesso, principalmente em políticas públicas. Queremos o que é nosso por direito”, afirmou Cintia.

O agricultor Ivo Santos, do Quilombo Sapatu, no município de Eldorado, no Vale do Ribeira, também destaca a importância da valorização da cultura negra. “O livro didático não conta muito a história do quilombo, então a gente divulga no boca a boca. A consciência negra serve para valorizar a história e as lutas dos quilombos e também para demandar questões sociais, como o título de terra”, comentou o agricultor, que também é coordenador da associação da comunidade do Sapatu.

Além da importância cultural, os quilombos guardam parte importante da história do Brasil. Em Sapatu, por exemplo, começou a ser formada por volta de 1870, por escravos refugiados e brasileiros que buscavam fugir do recrutamento militar para a guerra do Paraguai. No Vale do Ribeira, existem quilombos do século 17 que seguem resistindo aos conflitos sociais e ao apagamento cultural.

Na Comunidade Quilombola do Cafundó, fundada oficialmente em 1888, a maioria das pessoas falam o dialeto cupópia, formado pela mistura do português com línguas bantas de povos da África Subsaariana.

A preocupação ambiental na produção agrícola é outra característica dessas comunidades. A região do Vale do Ribeira se destaca pelo alto grau de preservação das matas e pela diversidade ecológica. São mais de 2,1 milhões de hectares de florestas que marcam 23% da Mata Atlântica restante no País. “Nossos antepassados já ensinavam a preservar as fontes de água, os rios, e passamos esse aprendizado de geração para geração. Trabalhamos o turismo e a agricultura com responsabilidade, respeitando a fauna e a flora”, afirma Ivo.

No Sapatu, onde vivem aproximadamente 300 pessoas, a maioria dos alimentos é produzida de forma orgânica. No Cafundó, também, tudo é orgânico, produzido de forma artesanal, utilizando folhas, plantas, ervas. Em 2012, quando recuperaram parte do território de grileiros por meio do Incra, encontraram eucaliptos e um porto de areia para construção civil, e buscam recuperar parte do solo que foi danificado durante alguns anos.

No Estado de São Paulo, existem 62 comunidades remanescentes de quilombos, dentre elas 36 são regularizadas e reconhecidas pelo Incra e pelo Itesp (Instituto de Terras do Estado de São Paulo). “Essas comunidades merecem todo o nosso apoio e respeito. São agricultores familiares que produzem alimentos e geram renda para muitas famílias paulistas, mantendo suas ricas tradições. Os técnicos dos institutos ligados à Secretaria de Agricultura e Abastecimento estão à disposição para dar total apoio e suporte técnico agrícola”, ressalta Guilherme Piai, secretário de Agricultura.

Fundação Itesp

A Fundação Itesp presta assistência técnica para 1.445 famílias quilombolas, distribuídas em 14 municípios. São 36 comunidades reconhecidas como remanescentes de quilombos pelo Governo do Estado de São Paulo, seis delas já tituladas em terras públicas estaduais.

O Itesp promove a capacitação dos beneficiários das comunidades de quilombos com políticas públicas de desenvolvimento em atividades agrícolas, manejo florestal, produção artesanal, comercialização, infraestrutura, ações nas áreas da saúde, educação, gestão social, meio ambiente e turismo, com fomento a geração de renda dos quilombolas e respeitando as suas tradições.

São vários programas que incentivam as comunidades, um dos principais é o Circuito Quilombola Paulista, que tem o objetivo de estimular o turismo agroecológico e cultural dos quilombos do Vale do Ribeira, Litoral Norte e Sudoeste do Estado de São Paulo.