Ele é considerado o segundo alimento nutricionalmente mais completo do mundo, perdendo apenas para o leite materno. Estamos falando do ovo, que neste ano é celebrado no dia 13 de outubro.
“Um alimento inclusivo, que está na mesa de todos os brasileiros, de todas as classes e grande gerador de emprego e renda”, avalia Cristina Nagano, diretora do Sindicato Rural de Bastos e que, em breve, assumirá a presidência da Câmara Setorial do Ovo, recém-criada pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo.
Até recentemente, a cadeia produtiva do ovo estava integrada à Câmara Setorial de Avicultura. No entanto, devido ao aumento das demandas específicas relacionadas à produção de aves poedeiras, esse setor foi desmembrado. “Essa mudança foi necessária, atendendo a um pedido antigo do setor, que é de grande importância econômica e social para o Estado de São Paulo”, explica José Carlos de Faria Jr., coordenador das Câmaras Setoriais e Temáticas da SAA.
O ovo, que já foi considerado vilão da alimentação humana, hoje é o queridinho dos brasileiros, principalmente, entre os chamados “marombeiros”, pelo alto valor proteico. Em média, o brasileiro consome 250 ovos por ano, segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Vale ressaltar que o produto é considerado um alimento nutricionalmente completo. Possui as vitaminas A, D, E, K, B12 e diversos sais minerais e lipídeos. Além disso, tem baixa concentração de gordura, em torno de 5 gramas.
Diante disso, o setor de ovos paulista, que movimenta mais de R$20 bilhões por ano, comemora a retomada do consumo nos últimos anos com uma produção anual ultrapassando 49 bilhões de unidades, volume que cresce em média 4% ao ano.
Mas para alavancar a atividade, existem algumas demandas urgentes que, com certeza, serão debatidas pela cadeia produtiva do ovo, como custo de produção, gripe aviária e vacinação das aves. “A produção é diretamente impactada pelos preços dos grãos utilizados na alimentação das aves, cerca de 68% do custo é ração”, explica Cristina Nagano.
Para a avicultora, o trabalho dos institutos de pesquisa e coordenações ligados à Secretaria de Agricultura, como a CATI (sementes e mudas), APTA e APTA REGIONAL, têm um papel fundamental na redução de custos da atividade, pois desenvolvem sementes mais produtivas, que garantem o aumento do volume sem a necessidade de expandir áreas.
Para se ter uma ideia do quanto a ração impacta no custo de produção, Cristina explica que “para produzir uma caixa de ovos são necessários dois sacos de milho ou similar. ” Fato que provocou uma forte crise na avicultura durante a pandemia, que durou dois longos anos por conta da explosão nos preços das commodities. No início de 2020, uma caixa de ovos era vendida por R$100 e o preço da saca de ração variava entre R$40 e R$60. Em abril do mesmo ano, segundo Cristina, a cotação do insumo saltou para cerca de R$90 e o preço da proteína se manteve o mesmo. “Foram dois longos anos de perdas, muitos produtores acumularam dívidas, reduziram plantel e muitos até deixaram a atividade”, lamenta a empresária.
Mas desde o final do ano passado, as cotações dos grãos caíram, reduzindo a pressão dos custos, o que motivou o setor de aves poedeiras. “Mas essa retomada é lenta, repor um plantel leva em média seis meses até que as aves comecem a produzir”, explica a avicultora.
Segundo Cristina, a demanda vem crescendo no País, com consumidores atraídos pelo custo benefício: alto valor nutricional X preço. “O ovo é a única proteína de origem animal que pode ser mantida fora da geladeira e pelo valor tem um papel social muito importante”, afirma.
A cadeia produtiva da região de Bastos, conhecida como a ‘Capital do Ovo’, gera mais de 4 mil empregos diretos e cerca de 16 mil indiretos. E, no momento, estão a todo vapor, para comemorar o Dia Mundial do Ovo, com campanhas de incentivo ao consumo pela alta qualidade nutricional do produto.
Além do consumo no País, o mercado externo também tem apresentado bons resultados, impulsionado pelos casos de gripe aviária no mundo. Somente no primeiro trimestre deste ano foram embarcadas 11,9 mil toneladas, 26% mais do que todo o volume exportado em 2023, sendo o Japão e Taiwan os maiores compradores da proteína brasileira.
A gripe aviária também é um calcanhar de aquiles para os avicultores paulistas. O Estado já possui 60 casos confirmados, principalmente em municípios do litoral paulista. A incidência da doença em território brasileiro acendeu um sinal de alerta entre os granjeiros. “Estamos retomando o setor depois de uma grave crise econômica, não tivemos respiro e, agora, estamos diante do risco dessa doença”, alerta Nagano. Uma eventual infecção em granjas comerciais pode ocasionar a quebra de produção da região de Bastos. “Além dos avicultores, a população de baixa renda será afetada, tendo em vista que a menor oferta vai elevar de forma expressiva o preço final do produto”, alerta a presidente da Câmara Setorial do Ovo.
Segundo Cristina, uma outra pauta de discussão é a vacinação preventiva das aves contra a influenza aviária, mas isso depende de aprovação por parte do Ministério da Agricultura. “A vacina é uma tentativa de preservar o maior número de aves se houver uma contaminação dos plantéis”, alerta.
“Desde a detecção do primeiro caso em 5 de junho, a Coordenadoria de Defesa Agropecuária tem mantido vigilância constante sobre os registros ocorridos no Estado. Isso inclui inspeções rigorosas em animais e a implementação de ações de vigilância de porta em porta, com o objetivo de manter o status de livre da doença para a exportação.
“Estamos dedicando esforços significativos à divulgação das melhores práticas para evitar a contaminação das granjas comerciais e ao monitoramento de aves suspeitas. Nosso compromisso é evitar perdas na cadeia produtiva da avicultura paulista. A criação desta Câmara Setorial é um passo importante, oferecendo um fórum amplo e democrático para dar acesso e voz aos produtores. Isso está alinhado com as diretrizes do Governo Tarcísio, que enfatiza o diálogo com todos os setores do agronegócio, dada a importância vital desse setor para o Estado, tanto em termos de geração de renda, quanto de empregos”, afirma Guilherme Piai.”